Ficha Técnica
Autor: Laurentino Gomes
Editora: Leya
Encadernação: Capa mole (edição de bolso)
N.º de Páginas: 336
Género: (suposto) Romance Histórico

Sinopse
"Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu.

Em tempo de guerra, reis e rainhas tinham sido destronados ou obrigados a refugiar-se em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe, a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colónias imensas em diversos continentes, até àquele momento nenhum rei tinha posto os pés nos seus territórios ultramarinos para uma simples visita - muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos da sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colónia de Portugal."


Opinião
Este livro passou muitos, mas mesmo muitos, meses na minha mesinha de cabeceira, o que por si só é um péssimo sinal. Parti para a leitura desde livro com a expectativa de encontrar um romance histórico tendo como pano de fundo a fuga da corte portuguesa de D. João VI para o Brasil. Qual não é o meu espanto quando aquilo que é suposto ser um romance histórico, assemelha-se bem mais a um pequeno livro de história. Gostaria pois de saber qual foi a alminha que decidiu que este livro pertencia junto de livros "normais" e não numa qualquer secção de livros de história. Não tenho nada contra livros de história, muito pelo contrário, tenho dezenas deles mas que, e ao contrário deste, estão devidamente assim catalogados. Aproveito para também fazer o mea culpa pois deveria ter investigado melhor antes de comprar.

No entanto, tenho de ser justa! Este livro está muito bem escrito e a informação é disponibilizada de forma bastante acessível. Dentro do verdadeiro género em que se insere, pode ser classificado como um excelente trabalho de investigação histórica pois analisa, não só o ponto de vista dos portugueses, mas também o de inúmeros estrangeiros que foram passando pelo Brasil durante o período de transferência da Corte para o Rio de Janeiro. Esta multiplicidade de opiniões e pontos de vista sobre os acontecimentos decorridos neste período, permite-nos ter uma visão mais clara do que seria efectivamente a realidade das movimentações sociais, científicas e políticas daquela época. É engraçado constatar que a corte portuguesa representava para um um símbolo de cultura e conhecimento e para outros (estrangeiros) eram uns incultos e autênticos provincianos!

Uma das alterações mais importantes, com consequências directas no futuro de Portugal e do Brasil, foi a "abertura" dos portos Brasileiros aos resto do Mundo (até então só acessíveis a embarcações portuguesas), especialmente aos ingleses como pagamento da protecção que foi dada durante a viagem de Portugal para o Brasil, a toda a corte e sanguessugas que a seguiram. O Brasil foi aberto ao mundo e o mundo abriu-se para o Brasil. Conhecimentos científicos e culturais assim como a adopção de ideais revolucionários importados, foram os primeiros passos no desenvolvimento de um futuro país independente desse pequeno e fraco colonizador que era Portugal.

Um pormenor que me chamou bastante a atenção foi o comportamento e modo de vida dos portugueses que ocupavam algumas posições de relevo na nobreza. O paralelismo entre "o ser português" da altura e o de agora é facilmente feito. Nunca poderíamos ter sido mais do que fomos, mesmo depois daquele golpe de génio que foram os Descobrimentos, porque, simplesmente, sempre fomos muitos a roubar e a viver à conta, sem nos esforçamos para evoluir e construir algo de real, verdadeiro e útil para toda a sociedade. Não há, nas classes mais proeminentes o orgulho de ser português, aquela soberba que tanto caracteriza os ingleses, franceses e outros povos como eles, e que os levou a chegar onde chegaram. Viver sempre à conta se possível, foi e é o modus operandi dos nossos governantes. Portugal ser mal governado não é defeito... é feitio!

Depois de entrar no mood apropriado para este tipo de leitura, foi um livro que acabei por ler de forma bastante rápida. Não é um page turner, como é óbvio, mas retrata um pedaço da história do meu país, da qual não possuía muitos conhecimentos, e que me deu muito prazer em descobrir e aproveitar para cimentar alguns conhecimentos anteriormente adquiridos.

Comments (4)

On 29 de março de 2010 às 22:24 , WhiteLady3 disse...

Eu adorei este livro. É um daqueles livros de História que não aborrece. Houvesse mais autores assim! E sim, a elite política portuguesa sempre foi um bando de sanguessugas. :P

Mas se queres ler um romance histórico, sugiro O Império dos Pardais. Passa-se nos Descobrimentos e a elite portuguesa sai um pouco melhor na figura, ainda que mostre as intrigas palacianas. :)

 
On 29 de março de 2010 às 22:30 , Mónica disse...

WhiteLady,

Também acabei por gostar de ler mas só depois de entrar no mood correcto para este tipo de leitura. Como estava à espera de outra coisa, acabei por me sentir um pouco defraudada nas minhas expectativas, o que poderá ter condicionado um pouco a apreciação global deste livro.

Como livro de história é excelente. Tomara muitos autores terem esta capacidade de transmitir conhecimentos sem no entanto se tornarem demasiado massudos e pesados. De certeza que haveriam mais pessoas a gostar e a estudar história.

 
On 30 de março de 2010 às 10:18 , Jacqueline' disse...

Creio que o mesmo autor publicou o livro numa versão infantil, e foi essa que a minha irmã leu. Lembro-me que ela gostou muito, principalmente porque expunha a fuga da corte portuguesa de um ponto de vista bem interessante. Quanto à versão "normal", devo dizer que não a conhecia, mas como sou uma pessoa que adora história, tenho de o ler. Acho sem dúvida muito interessante o facto de não se ter só a perspectiva portuguesa, mas também a dos outros povos, como referiste.

 
On 30 de março de 2010 às 11:55 , Marco Caetano disse...

Para mim este livro foi uma surpresa bastante agradável. Quando o comecei a ler nunca imaginei que fosse gostar como gostei.

Convido a que leiam a minha resanha em:
http://conspiracaodasletras.blogspot.com/2008/04/1808-laurentino-gomes.html

Continuação de boas letras...